The Last Guardian

ATENÇÃO: esta resenha contém informações reveladoras sobre o enredo de “The Last Guardian”.

Artigo publicado na edição Nº74, de setembro de 2016, Fantasia Fantástica e Filosofia, da Revista Pandora Brasil, ISSN 2175-3318.

 

The Last Guardian é provavelmente a narrativa mais filosófica de todo o universo de Warcraft. Do início ao fim, com Jeff Grubb as personagens refletem sobre a realidade, sobre liberdade, como também sobre verdade, ao longo de suas mais de 300 páginas. Ao mesmo tempo, as personagens encontram-se imersas no coração da magia de Warcraft, num momento que se situa entre o estabelecimento dos primeiros reinos em Azeroth e a solidificação do maior conflito dessa série: Orcs vs. Humans.

Nesse capítulo da história, podemos entender o desenvolvimento do enredo no período da Primeira Guerra, cenário em que a Horde derruba a poderosa capital Stormwind, acabando com a raça humana no Reino de Azeroth – cenário em que o filme Warcraft é baseado. Nas resenhas anteriores, em Rise of the Horde e em Unbroken, por uma perspectiva de enredo entendemos o surgimento da Horde em Draenor, seu conflito com os draenei, as consequências de seu pacto com a Burning Legion, a construção do Dark Portal e a sobrevivência do povo draenei. Em nossas análises, por sua vez, refletimos sobre a democracia, sobre os choques culturais entre diferentes sociedades, bem como sobre o sofrimento e seu lugar em nossas vidas.

Agora, o enredo de The Last Guardian narra a invasão dos orcs em Azeroth e seu conflito com a humanidade. A estrutura central do enredo, no entanto, gira de em torno de questões muito mais fundamentais: será que o universo opera cosmologicamente como um mecanismo implacável, representado pela figura de um relógio? Ou será que, pelo contrário, ele opera como uma ampulheta, sem a determinidade de ponteiros e de uma estrutura racionalmente ordenada? Será que temos liberdade para construir a nós mesmos através de nossas ações ou será que somos determinados a representar o papel que nos é imposto por natureza? E, finalmente, mesmo se fôssemos livres para racionalmente escolher como agir, será que seríamos livres em detrimento ao nosso próprio corpo e à própria natureza, isto é, às nossas necessidades e aos nossos desejos e a tudo aquilo que nos cerca? Em outras palavras, será que a nossa vontade é livre? Para refletirmos sobre essas questões, devemos primeiramente embarcar de cabeça na magia da torre de Karazhan. Continuar lendo “The Last Guardian”

Unbroken

ATENÇÃO: este texto contém informações reveladoras sobre o enredo de “Unbroken”.

Artigo publicado na edição Nº74, de setembro de 2016, Fantasia Fantástica e Filosofia, da Revista Pandora Brasil, ISSN 2175-3318.

 

Na primeira resenha de Warcraft, em Rise of the Horde, pudemos entender, através do início do desenvolvimento do enredo desta série, a relação entre os draenei, a Burning Legion, os orcs e Azeroth, assim como pudemos refletir sobre a democracia, suas contradições e seus limites em um tempo de muita passividade política e pouco posicionamento crítico. No que diz respeito ao enredo, contudo, a história terminou inconclusiva, na medida em que se tratava apenas do primeiro passo de uma jornada através de mais de 40 livros.

Micky Neilson escreveu a continuação de Rise of the Horde, com uma história angustiante e reveladora, campo fértil para a reflexões: Unbroken. Essa narrativa parte da continuação do clímax da anterior, quando a Horde, após destruir todas as cidades e refúgios dos draenei e utilizar o sangue de Mannoroth como propulsor para aumentar sua força consideravelmente, converge suas forças para a capital dos draenei, Shattrath City. A narrativa de Christie Golden, sobretudo pelo ponto de vista dos orcs, não apresentou os acontecimentos concernentes à batalha de Shattrath City, à destruição dos draenei, a seu futuro e ao desfecho desse ciclo. É Unbroken que estabelecerá a ligação entre as histórias e cronologicamente formará um elo no enredo de Warcraft, de Rise of the Horde até Night of the Dragon.

Em Unbroken, o sofrimento surge como o eixo para as reflexões de Nobundo, o protagonista desta história. Unbroken foi preparado com ingredientes para pensarmos o modo com que lidamos com o sofrimento, com a pressão social e com os desafios diante do fracasso em nossas vidas. Antes de analisarmos essa história, precisamos conhecê-la e entender como o sofrimento se articula com o desenvolvimento dessa personagem.

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Rise of the Horde

ATENÇÃO: este texto contém informações reveladoras sobre o enredo de “Rise of the Horde”.

Artigo publicado na edição Nº74, de setembro de 2016, Fantasia Fantástica e Filosofia, da Revista Pandora Brasil, ISSN 2175-3318.

 

Rise of the Horde, de Christie Golden, é uma narrativa fantástica em que questões como a intolerância, o ódio e o preconceito, a democracia, a liberdade e o poder, auxiliam na reflexão sobre nosso próprio papel na sociedade, assim como sobre a importância de um pensamento crítico em relação ao posicionamento político. A fim de discutirmos possíveis problemas que essa leitura pode suscitar à reflexão, temos que, no mínimo, conhecer o enredo desta narrativa.

Em Draenor, um mundo predominantemente verde e cheio de vida, duas sociedades coexistiam harmoniosamente. De um lado, os draenei, criaturas humanoides de aspecto azulado, com cascos de cabras sob os pés, longas caldas e um porte físico ligeiramente maior do que o dos humanos, viviam em cidades tecnologicamente desenvolvidas. Os orcs, por sua vez, dividiam-se em clãs independentes, no seio de uma sociedade tribal, reunindo-se apenas para a celebração anual dos ancestrais em Oshu’gun; sua pele marrom-escura e sua constituição física robusta e levemente recurvada tornavam-nos parecidos com gorilas bípedes. Essas duas sociedades, apesar de distintas, tiveram pouco contato ao longo dos séculos em que coexistiram no mundo de Draenor. Continuar lendo “Rise of the Horde”