Tides of Darkness

ATENÇÃO: esta resenha contém informações reveladoras sobre o enredo de “Tides of Darkness”.

 

Nesta resenha inserimo-nos na guerra entre Orcs vs. Humans e vamos nos aventurar em um dos maiores conflitos da história de Azeroth: a Segunda Guerra. Em uma luta de dimensões globais, as diferentes nações e povos mobilizam-se para impedir o avanço de um inimigo em comum: a Horde. No clima de batalhas que envolvem todas as nações da humanidade a fim de proteger o mundo contra seus invasores, Aaron Rosenberg apresenta-nos um enredo em ebulição do começo ao fim, como um caldeirão cheio de elementos fantásticos.

Neste embate entre a humanidade e os orcs, iniciado com a invasão do mundo por esses seres alienígenas e pela destruição do Reino de Azeroth na Primeira Guerra –desenvolvido no romance anterior desta série e analisado na resenha de The Last Guardian (Da Paz, 2016), os orcs decidiram, depois de vencer a Primeira Guerra, rumar para o Norte e dominar todo o mundo. Naquela resenha vimos que, em meio a essa luta, Medivh, Garona, Khadgar e Anduin Lothar protagonizaram uma trama que proporcionou o desenvolvimento de reflexões sobre problemas filosóficos fundamentais, como questões sobre realidade e sobre liberdade. Agora, liderados por Orgrim Doomhammer, não mais sob o comando injusto de Blackhand e de Gul’dan, a Horde busca conquistar o mundo de modo que seu povo possa, finalmente, deixar de lado as guerras e prosperar honradamente nesse novo mundo rico em provisões e em terras férteis – num profundo contraste em relação ao planeta infértil dos orcs. No entanto, Gul’dan e seus warlocks, apesar de jurarem sua lealdade a Doomhammer, continuaram a levar a efeito seus esquemas e subterfúgios por detrás dos panos.

Com efeito, deste embate entre justiça e injustiça temos no enredo um prato cheio para a compreensão de como, por diferentes meios, é possível levar a efeito o comando de um povo ou de uma nação. Doomhammer, Gul’dan, os monarcas humanos e os líderes das outras raças governam seus povos de maneiras muito diferentes. Na luta por supremacia, nem sempre as ações justas são capazes de vencer uma guerra. Há momentos em que parece ser necessário agir injustamente, tendo em vista a vitória e a supressão do inimigo. Apesar disso, para que seja possível realizar qualquer feito em geral, parece ser necessário haver algum nível, por mais tímido que ele possa ser, de justiça entre os indivíduos envolvidos na iniciativa. Mergulhados nesse caldeirão mágico e fantástico da Segunda Guerra em Azeroth, formularemos a seguinte reflexão: será que a injustiça, de certo modo, é superior à justiça em uma luta por supremacia? Caso a injustiça seja superior nesse contexto, será que é possível realizar efetivamente qualquer feito de modo completamente injusto?

Os moradores da pequena e pacata cidade portuária de Southshore espantaram-se com a súbita chegada de milhares de barcos em suas margens. Ao observar atentamente, os moradores deste vilarejo de Lordaeron perceberam que os barcos continham homens, mulheres e crianças. A princípio assustados com a possibilidade de tratar-se de uma invasão, os aldeões logo notaram que as pessoas nesses barcos tinham uma aparência desolada: certamente sobreviventes de alguma calamidade. De um deles desembarcou Lord Anduin Lothar, Campeão de Azeroth; Khadgar e o Príncipe Varian Wrynn, órfão e herdeiro ao trono de Stormwind. Após serem recebidos pelo líder dos aldeões, Lothar anunciou que Stormwind havia caído, embora alguns poucos sobreviventes tivessem escapado para Lordaeron. Ele trazia com ele o jovem príncipe, bem como notícias funestas aos reis do Norte.

Lothar e Khadgar partiram em uma caravana para a capital de Lordaeron, com os poucos que desejavam acompanhá-los. Eles necessitariam forçar os líderes a ouvi-los, para formar uma aliança: a formação de tal aliança seria a única salvação contra a ameaça da Horde. Não se tratava de enfrentar um inimigo qualquer, mas algo com que a humanidade nunca havia deparado antes. Lord Lothar havia enfrentado a Horde e descobriu o preço caro da presunção de King Llane: seu reino fora devastado. Não haveria chance de vencer enquanto a humanidade permanecesse dividida.

Na sala do trono real de Lordaeron, Khadgar e Lothar foram recebidos pelo Rei Terenas Menethil II, líder da capital e monarca do reino mais importante do Norte. Ambos agradeceram o acolhimento, porém, após revelarem os acontecimentos em Stormwind City, anunciaram que não vieram a Lordaeron para hospedarem-se no reino. Eles vieram para prepará-los: Lordaeron precisava preparar-se para a guerra – uma guerra pela própria sobrevivência da humanidade.

Por isso, todos os monarcas foram convocados para um conselho, o Conselho dos Sete Reinos. Nesta reunião, na medida em que nem todos estavam convencidos da necessidade de uma aliança e da preparação para uma guerra, Terenas decidiu revelar que Lord Lothar era, na verdade, o último dos Arathi, descendente direto do Rei Thoradin do Império de Arathor, do qual cada um e todos os Sete Reinos eram derivados. Essa revelação espantou a todos, dado que isso tornava Lothar uma figura tão importante quanto qualquer um dos monarcas presentes. Contudo, Lothar não reivindicava monarquia: ele usaria de seu poder dos Arathi para firmar uma aliança com os elfos de Quel’thalas, a fim de aumentar os números de combatentes contra a Horde. No final, todos os monarcas decidiram que Lord Lothar deveria ser o Comandante Supremo da nascente Alliance of Lordaeron. Ele deveria liderar os exércitos e comandá-los em combate contra as forças dos orcs. Turalyon, um dos novos paladins, cavaleiros religiosos incumbidos com a missão de proteger e propagar a fé na Holy Light, foi nomeado tenente principal das forças e o segundo no comando por Lothar.

Enquanto isso, ao sul, no Reino de Azeroth, Gul’dan acordou de seu coma e foi chamado para prestar contas com o novo Warchief da Horde: Orgrim Doomhammer. Este havia descoberto os esquemas de Gul’dan. Blackhand, o então Warchief, estava sendo usado como uma marionete, para que Gul’dan e seus warlocks controlassem verdadeiramente a Horde por detrás dos panos. Esse grupo secreto chamava-se Shadow Council. Assim, Doomhammer desafiou Blackhand para um Mak’gora, um duelo tradicionalmente cultural pelo domínio dos orcs. Ao vencer, Doomhammer clamou para si a liderança e desmantelou a sociedade secreta de Gul’dan. Como líder, Orgrim decidiu levar a Horde pela via da honra e da sobrevivência. Ele não buscaria poder, mas, em vez disso, buscaria um futuro melhor para os orcs. Sua missão era desfazer as atrocidades de Gul’dan e restaurar a honra à Horde de modo justo. Apesar disso, na iminência de ser morto por Doomhammer, Gul’dan jurou lealdade e, por isso, foi poupado: Doomhammer precisaria dele e de seus warlocks, caso quisesse vencer a humanidade e conquistar o mundo.

No entanto, Gul’dan não planejava agir de modo honrado e justo, como havia jurado a Doomhammer. Ele anunciou a Cho’gall, seu braço direito, que sabia de um modo para tornar-se todo poderoso: nas ilhas no meio do mar havia uma fonte de poder ilimitado. Com esse poder, ele poderia destruir Doomhammer, a Horde e qualquer força existente nesse mundo. Assim, para ser capaz de realizar seu plano de buscar poder ilimitado, ele precisaria, primeiramente, unir seu clã, os Stormreavers, uma força de warlocks capaz de fazer frente a Doomhammer, ao Twilight Hammer, clã de Cho’gall. Entretanto,  Doomhammer possuía uma carta na manga totalmente desconhecida por Gul’dan: o Demon Soul, um artefato mágico poderosíssimo. Esse artefato fora descoberto em um sonho por Zuluhed, Chieftain do Dragonmaw Clan. Zuluhed pediu permissão a Doomhammer para procurar este artefato mágico com seu clã. Diferente de Gul’dan, Zuluhed era extremamente leal e justo e jamais se voltaria contra a Horde. Apesar de ter vislumbrado o artefato poderosíssimo, Zuluhed e seu clã, ao tomar posse do artefato, não conseguiram acessá-lo. Mesmo assim, segundo Zuluhed, isso seria apenas questão de tempo.

O Demon Soul não era o único trunfo de Doomhammer. Durante a Primeira Guerra, Blackhand descobriu a existência de trolls. Essas criaturas eram razoavelmente civilizadas, viviam em tribos e organizavam-se hierarquicamente em sociedade. Ele decidiu que a integração dessas criaturas na Horde seria superior à já bem-sucedida integração dos ogros, feita por Gul’dan no passado. Diferente destes últimos, aqueles eram racionalmente mais desenvolvidos, conheciam bem a geografia de Azeroth, assim como dominavam incrivelmente as florestas desse mundo. Para realizar essa façanha, Blackhand incumbiu Doomhammer, seu braço direito, e outros orcs de elite sob o comando de seu discípulo, para recrutar os trolls para a Horde. Eles foram em uma expedição às florestas dos trolls, porém falharam, dado que estes seres negaram abrir mão de sua autonomia para fazer parte da Horde.

Entretanto, agora, no presente, os trolls foram resgatados pelos orcs de seu cativeiro feito pelos humanos. Dentre os trolls resgatados, Doomhammer vitoriosamente identificou Zul’jin, o líder desses seres. Diferentemente do passado, agora que testemunhara o poderio militar da Horde e sua supremacia em relação aos poderosíssimos humanos, Zul’jin decidiu unir-se a eles. Doomhammer, completamente realizado, animou-se com a nova força da Horde. Na medida em que Zuluhed conseguisse dominar o Demon Soul, assim como, agora, com o conhecimento e experiência dos trolls, a Horde seria indestrutível.

Apesar dessa aparente superioridade aos esquemas de Gul’dan, Doomhammer não conhecia os limites dos subterfúgios deste orc injusto e desonrado. Este decidiu desenvolver rituais de necromancia, para trazer de volta dos mortos os warlocks de elite do Shadow Council assassinados por Doomhammer. Ele desenvolveu um ritual junto com seus warlocks inferiores e enganou todos estes discípulos. Concentrados no ritual, os discípulos não perceberam que Gul’dan e Cho’gall, na verdade, removeriam seus corações enquanto ainda vivos. Após imbuir o coração dos discípulos warlocks com magia negra, eles invocaram as almas dos membros do Shadow Countil e fundiram-nas nestes corações, de modo a preparar tal carga de poder a fim de poder utilizá-la para ressuscitar com sucesso os poderosos warlocks do Shadow Council e formar um novo exército de cavaleiros da morte, os death knights.

Gul’dan convocou Doomhammer para demonstrar o sucesso de sua missão: ele estava pronto para executar o ritual. Neste momento, com dezenas de corpos de guerreiros humanos enfileirados no chão, Gul’dan ordenou Cho’gall a iniciar o ritual. Com necromancia da mais escura magia, Cho’gall ressuscitou Teron Gorefiend com sucesso, ao enxertar o coração dos discípulos, imbuídos com as almas dos warlocks do Shadow Council, nos corpos dos guerreiros humanos mortos na Primeira Guerra. Em um misto de temor, repulsa e raiva, Doomhammer aquiesceu e aceitou esses novos seres, os death knights, ao perceber a poderosíssima força que Gul’dan havia adicionado ao exército da Horde. Gul’dan, por seu turno, estava satisfeito: em breve estaria pronto para tomar o poder e dominar o mundo.

Zuluhed, enquanto isso, conseguiu finalmente controlar o Demon Soul. Ele utilizou este artefato para escravizar Alexstrasza, a rainha dos dragões. Esse artefato mágico era capaz de controlar os dragões e eles estavam dispostos a utilizar esses seres gigantescos e bestiais como arma na guerra contra os humanos. A Dragonqueen continuaria presa a produzir ovos, enquanto estes, então, poderiam tornar-se dragões poderosos, para serem utilizados como armas pela Horde. Os orcs foram os primeiros a montar tais criaturas, para tentar pôr um fim, de uma vez por todas, na humanidade.

Em Lordaeron, todos os reis encontravam-se em uma região central do continente, preparando-se para o iminente combate. Nesse instante, um arauto revelou a chegada de elfos. Ao sair das tendas e encontrar os elfos, todos notaram que seus números eram muito pequenos. Alleria Windrunner, comandante do regimento dos elfos revelou que o Conselho de Silvermoon, que governava os elfos, mandou um número mínimo de tropas, tão somente pelo fato de terem jurado lealdade eterna aos Arathi.

Enquanto eles discutiam as estratégias na tenda com todos os líderes e monarcas, Lothar e Alleria ordenaram seus batedores a mapear as redondezas, para certificarem-se de quando e como a Horde se aproximaria do local. De repente, os batedores retornaram desesperados. Eles revelaram que as forças da Horde haviam tomado Khaz Modan ao sul, de modo a usar os suprimentos dos anões para construir imensos navios de ferro. Eles navegavam com toda sua força, para chegar em Hillsbrad nos próximos momentos. Lothar comandou todos a prepararem-se urgentemente pelo combate em Hillsbrad. Todos rapidamente se moveram para o local: a Segunda Guerra estava prestes a começar.

Em pouco tempo eles notaram a aproximação dos incontáveis barcos da Horde. Alleria, cuja visão élfica a permitia enxergar através de longas distâncias, alertou a Lord Lothar de que eles estavam atracando. Assim, ele comandou os regimentos para marcharem dos morros em direção às margens de Southshore. Em poucos minutos, os orcs rapidamente tomaram as margens da ilha. Ao notá-los a avançar rapidamente, Lothar sacou sua espada e comandou as forças da Alliance, com seu grito de guerra: “For Lordaeron!”: a Segunda Guerra havia começado.

Com a batalha em curso, Turalyon avançou com seu cavalo e lançou-se contra as criaturas. Ele pôde, então, notar como essas criaturas eram feias e assustadoras, com seus enormes corpos verdes, presas animalescas e olhos avermelhados. Os paladins entraram em combate, com seu poder da Holy Light a emanar ao longo do campo de batalha; a luz brilhava e inspirava os outros combatentes, de modo que a Alliance pôde continuar a combater os orcs destemidamente. Apesar disso, seu número era tão grandioso que a Alliance seria sobrecarregada. Turalyon, Lothar e os paladins recuaram, com as forças dos Sete Reinos a executar uma barreira de escudos para conter a onda de escuridão. Com efeito, onda após onda de orcs, a barreira resistiu, causando grandes danos à Horde. Após alguns instantes, os orcs mudaram de estratégia, com figuras encapuzadas a utilizar magia negra: os death knights – estes cavaleiros da morte explodiam livremente as veias dos soldados humanos na linha de frente. Por isso, Uther e os paladins foram enfrentá-los, com os poderes sagrados da luz de modo a anular tal magia negra nefasta. Em uma luta direta, os dois grupos de elite combateram ferozmente. Enquanto isso, ogros uniram-se às ondas dos orcs e avançaram contra as paredes de escudos da Alliance. Centenas de soldados foram abatidos rapidamente e Turalyon teve de mudar as táticas. Deste modo, com a Horde a avançar cada vez mais, o paladin preocupou-se e pediu ajuda a Khadgar, que conjurou o poder da tempestade, destruindo muitos orcs e um ogro, sem ser nem de perto o bastante. Catapultas e regimentos liderados por Turalyon tentaram barrar o avanço das criaturas. Mesmo assim, nada parava a maré da escuridão.

Lothar, então, surgiu no momento de hesitação de Turalyon e ordenou-lhe que preparasse a cavalaria. Eles marcharam como rolos compressores sobre a Horde, inspirados pela coragem e determinação da Alliance. Cavalos avançaram contra as criaturas bestiais, atropelando tudo e a todos. Isso pegou os orcs de surpresa, já que eles recuaram e avançaram para o Leste, em direção de Hinterlands, a terra dos anões Wildhammer. Apesar de frenético pelos avanços da cavalaria, Turalyon foi aconselhado por Lothar a finalizar a batalha e recuar com a Alliance, em vez de avançar e perseguir os orcs que recuavam, dado que as forças dos combatentes humanos estavam esgotadas. No final, isso foi uma vitória: os humanos viram que, juntos, poderiam resistir tanto ao poderio quanto à força espantosa da Horde.

Depois da primeira batalha da Segunda Guerra, Lothar liderou as forças da Alliance no avanço em Hinterlands. Turalyon e Khadgar seguiram-no de perto. Por entre as árvores, as forças da Alliance prosseguiram em marcha contra o inimigo. Nessas terras, Kurdran Wildhammer, Thane Chieftain e líder dos anões Wildhammer, criaturas robustas, fortes e razoavelmente menores do que os humanos, foi procurado em Aerie Peak por seus capitães. Ele recebeu a notícia de que os anões eram atacados por criaturas verdes muito fortes: os orcs. Ele foi avisado de que os trolls estavam unidos a essas criaturas. Agora, os anões precisavam de ajuda para vencer os combates. Entretanto, logo em seguida o líder dos anões do Aerie foi avisado de que os humanos estavam em Hinterlands para ajudá-los. Com essa notícia inesperada, Kurdran teve suas esperanças renovadas. Ele faz planos audaciosos: ataques aéreos seriam suficientes, com a ajuda dos humanos no chão. Portanto, os anões também estavam preparados para a guerra.

Lothar e Turalyon avançaram contra os orcs assim que as tropas da Alliance posicionaram-se para o combate. As criaturas foram pegas de surpresa pelos humanos, dado que estavam preparados com lanças de modo a guardar os céus, não o solo. Apesar disso, os humanos foram surpreendidos com o fato de que também não poderiam preocupar-se somente com o solo, dado que do alto das árvores trolls fizeram-lhes uma emboscada. Eis que, então, dos céus surgiram grifos e anões Wildhammer. Eles auxiliaram a Alliance, deixando os trolls ocupados no alto das árvores. Assim, os humanos puderam focar somente nos orcs no solo. Estes foram surpreendidos, uma vez que foram atacados por todas as direções. Eles não puderam resistir à força da Alliance no solo combinada com a dos anões nos céus.

No final, em um encontro com os líderes, Lothar explicou todos os acontecimentos a Kurdran, desde a invasão de Azeroth pelos orcs, a destruição de Stormwind City e o início da Segunda Guerra. Ele, então, perguntou se ele gostaria de aliar-se à Alliance. Kurdran também descobriu que seus primos anões de Ironforge foram derrotados pelos orcs e feitos prisioneiros. Ele, então, decidiu aliar-se à Alliance e lutar na Segunda Guerra contra a Horde. Apesar de propor-se a ajudar no combate, ele avisou que os orcs foram avistados movimentando-se para o Noroeste, em direção de Quel’Thalas. Lothar percebeu que a invasão de Hinterlands fora uma armadilha: a Horde os forçou a perder muito tempo combatendo parte dos orcs deixados em Hinterlands, para que o restante de suas forças pudesse mover-se livremente em massa para Quel’Thalas, o reino dos elfos.

Parte do exército ficou com Lothar e com os anões em Hinterlands, para assegurá-los de que a região pudesse ficar livre de invasores. A outra metade, por sua vez, seguiu com Alleria e Turalyon para Quel’Thalas, de modo a impedir que a Horde conquistasse o reino dos elfos. Na medida em que as forças da Horde estavam à frente e moviam-se rapidamente, Turalyon e Alleria tiveram que acelerar a marcha em direção às terras dos elfos. Caso a Horde conquistasse Quel’Thalas, seria questão de tempo para varrer todo o mundo.

De fato, isso era o que ocorria: quando eles chegaram nas florestas de Quel’thalas, vestígios da passagem da Horde encontravam-se em todo o local. Doomhammer moveu as massas da Horde e permitiu que os trolls espalhassem-se pelas florestas como uma praga. Gul’dan, por sua vez, descobriu artefatos mágicos dos elfos, relíquias cuja finalidade era proteger magicamente as terras. Ele as alterou de modo a serem capazes de empoderar os ogros e torná-los magos.

Na medida em que chegaram tarde demais, Alleria decidiu avançar pelos bosques para alertar seu povo, enquanto Turalyon posicionava as forças da Alliance estrategicamente para barrar os orcs e iniciar o combate. Ela encontrou Vereesa, sua irmã mais nova, que lhe revelou que Sylvanas, a irmã mais velha das três e Ranger General das forças dos elfos, estava com um regimento a proteger os bosques. De repente, em meio à conversa, elas foram atacadas por trolls e rapidamente salvas por sua irmã mais velha, que apareceu de surpresa por entre as árvores. Elas decidiram contatar o Rei Elfo Anasterian Sunstrider e informar-lhe sobre a situação do conflito. Este, finalmente, ordenou que todas as forças dos elfos fossem enviadas à batalha.

Alleria regressou e avisou Turalyon de que as tropas de Quel’Thalas estavam a caminho. Ele e Khadgar prosseguiram na batalha contra os orcs. Para seu desespero, os ogros, criaturas gigantescas que sozinhas desmantelavam dezenas de soldados da Alliance, davam uma vantagem muito grande para a Horde na batalha. Para a surpresa de ambos, esses ogros ainda por cima eram conjuradores de magia. Em um momento de medo e perplexidade, Turalyon e Khadgar assistiram às criaturas destruírem dezenas de soldados das forças da Alliance. Para seu alívio, em pouco tempo as tropas de Quel’Thalas chegaram e abateram algumas das criaturas. Com fôlego renovado, Turalyon comandou as forças da Alliance a reposicionarem-se de modo a, em conjunto com as forças de Quel’Thalas, encurralar os orcs e impedir que eles se reagrupassem.

Alleria foi instruída a passar tais informações aos elfos, para que eles pudessem seguir o comando de Turalyon. As forças da Alliance e de Quel’Thalas executaram as manobras táticas necessárias em conjunto e os orcs foram novamente surpreendidos e encurralados entre dois exércitos. Apesar de mais numerosos, eles caíram perante a tática de Turalyon. Em um revés inesperado, as forças da Horde foram alimentadas com diversos ogros de duas cabeças, igualmente dotados de magia, gigantes e armados com troncos de árvores maciças. A Horde pôde reformar suas forças através dos espaços criados pelas criaturas devastadoras. Em pouco tempo, a maré da batalha havia mudado de lado novamente, favorecendo a Horde. Para a sorte dos humanos, os anões Wildhammer chegaram pelos ares, para auxiliar na luta, derrubando ogros no campo de batalha. Eles desceram pelos ares, com seus stormhammers atingindo a todos com a força de raios e trovões, derrubando todos os ogros e causando caos nas forças da Horde. No entanto, para a surpresa de Kurdran Wildhammer, dragões montados por orcs chegaram dos céus. Eles eram criaturas enormes, muito maiores do que os grifos dos anões, bestiais e imparáveis. Um dos dragões engoliu um grifo facilmente. Todos desceram dos céus cuspindo fogo.

Turalyon rapidamente ordenou suas tropas e a dos elfos a recuar, para deixar os bosques. Em pouco tempo os dragões desceram, colocando fogo em todas as árvores da floresta de Quel’Thalas. A batalha havia acabado. Sylvanas Windrunner e os líderes elfos uniram-se aos líderes da Alliance e anunciam a Turalyon que os elfos queriam fazer parte da Alliance, para lutar nessa guerra contra a Horde. Kurdran Wildhammer desceu dos céus e avisou a Turalyon que não havia mais nada a se fazer para impedir os dragões. Eles eram muito poderosos. Ao concentrar-se, Turalyon percebeu que restava somente um alvo para a Horde: a Capital de Lordaeron.

Isso era exatamente o que ocorria: Doomhammer bateu em retirada, ordenando os Chieftains a mover suas tropas em direção de Lordaeron. Na iminência de sua partida, Zuluhed informou a Doomhammer que os dragões não podiam causar danos à cidade dos elfos, Silvermoon City, por conta de encantamentos protetores poderosíssimos. Gul’dan revelou que se tratava do Sunwell, a vasta e imensa fonte de poder mágico e divino dos elfos, a qual era impossível de controlar. Doomhammer argumentou que Gul’dan talvez pudesse fazer algum encantamento contra os elfos. Este revelou que teve uma ideia e esteve pensando em realizá-la; para tal, contudo, ele necessitaria ficar no local, a fim de finalizar os encantamentos poderosos. Doomhammer, apesar de relutar, permitiu que o warlock ficasse no local. Por detrás dos panos, no entanto, o Warchief orientou Zuluhed a, caso eles não obtivessem sucesso com a tomada de Silvermoon, retornar à capital de Lordaeron junto com Gul’dan, Cho’gall e seus respectivos clãs.

Enquanto a Horde deixava Quel’Thalas em marcha na direção de Lordaeron, Gul’dan observava os últimos orcs a sumir no horizonte. Quando o último orc desapareceu de vista, Gul’dan ordenou Cho’gall a preparar as tropas para partir imediatamente. Eles deveriam chegar a Southshore o mais rápido possível, para levar a efeito seu plano secreto. Eles partiriam pelo mar antes de Zuluhed notar, dado que este estaria preocupado em quebrar as defesas de Silvermoon com seus dragões. Quando ele notasse sua ausência, Gul’dan e Cho’gall já estariam longe, finalmente livre das garras de Doomhammer.

Entre Quel’Thalas e a capital de Lordaeron havia montanhas estreitas e tortuosas, os picos do reino de Alterac, do astuto Rei Aiden Perenolde. Enquanto toda a Horde dormia nas encostas de Alterac, Doomhammer desceu para um pequeno vale por entre as pedras monte abaixo. Sem fazer barulho, ele chegou a uma pequena clareira. Ao chegar no local, ele abaixou-se para espiar e notou uma figura no escuro, que o chamou. Ele apresentou-se e ambos conversaram. Tratava-se de um indivíduo que havia mandado uma carta através de uma ave de mensagens para o líder da Horde, a fim de encontrá-lo secretamente nessa clareira. Ele queria fazer uma oferta ao Warchief dos orcs: passagem livre por entre as montanhas, contanto que ninguém fosse ferido pelas forças da Horde e nada fosse destruído; além disso, ele ensinaria a rota mais rápida em direção de Lordaeron através das montanhas. Assim que Doomhammer ouviu a oferta ele ponderou. Este indivíduo argumentou que qualquer batalha nas montanhas, apesar de terminar com a vitória da Horde, não deixaria de trazer grandes e irremediáveis perdas às massas de orcs, postando-os em completa desvantagem para a batalha por Lordaeron. Ao ouvir isso, Doomhammer aceitou a oferta e rapidamente deu sua palavra ao indivíduo.

No dia seguinte, Perenolde chamou todos os comandantes das forças de Alterac para a sala de reuniões. No momento em que todos chegaram, ele avisou-lhes da iminente chegada da Horde às suas terras. Surpresos, eles perguntaram sobre as forças dos orcs. Dismissivo, Perenolde respondeu que uma vastíssima força chegaria talvez em um dia, para atravessar Alterac e invadir a capital de Lordaeron. No entanto, ele revelou a seus generais que Alterac não era mais parte da Alliance e que eles estavam fora do combate. Atônito, Hath, seu principal general, relembrou seu líder de que eles tinham juramentos feitos aos Sete Reinos. Mesmo assim, o monarca repreendeu seu general, dizendo que a Horde era uma massa de dezenas de milhares de orcs, criaturas maciças e imbatíveis, contra Alterac sozinha, já que a Alliance havia os abandonado. Claramente contrariados, eles acabaram por ser persuadidos e aceitaram as ordens, após o monarca revelar que fizera um pacto com o líder da Horde na calada da noite e que ele garantiu a segurança de Alterac. Portanto, Perenolde pontuou a seus subordinados que ele aceitaria total responsabilidade e ordenou que as forças fossem movidas para o lado oposto ao qual a Horde passaria suas legiões.

Doomhammer levou dois dias para cruzar as passagens de Alterac com os primeiros orcs e, como prometido por Perenolde, não avistaram nenhum humano. Quando passou pelas montanhas, Doomhammer finalmente deparou com Lordamere Lake, lago cujas margens banhavam a cidade de Lordaeron. Do lado oposto das margens do lago, Lordaeron postava-se austera. Doomhammer berrou bestialmente, em um sinal de guerra. Todos os orcs o imitaram, a produzir um eco ensurdecedor por todo o vale. Certamente os humanos escutariam a chegada da Horde. Contudo, seria tarde demais para agir.

Terenas foi interrompido subitamente por um de seus melhores homens. Marev, o comandante da guarda, desesperou ao relatar ao monarca sobre a chegada dos orcs. Ele avisou que os inimigos cruzaram a montanha vindo de Alterac. Da sacada do castelo real, Terenas pôde ver as massas de orcs a surgir das montanhas, tomando todo o vale através de Lordamere Lake. Ambos não conseguiram entender como eles poderiam ter passado por Alterac ilesos. Terenas ordenou que eles comunicassem Alterac imediatamente e preparassem-se para a defesa de Lordaeron. Ele também ordenou que os cidadãos da cidade rapidamente retornassem para o lado de dentro dos muros, de modo que a cidade ficasse selada para os orcs. A Horde já havia cruzado o lago, através de pontes construídas com madeira. Terenas assustou-se com a aparência e força da Horde. Poucos soldados haviam restado para proteger Lordaeron. Ele preocupou-se com tal fato, embora não se arrependesse de ter enviado todas as suas forças para ajudar a Alliance. Entretanto, isso não significava que eles estavam dispostos a render-se! De fato, por ser a capital do reino a cidade estava preparada para um sítio de longas semanas, caso fosse necessário.

Pombos foram enviados aos líderes da Alliance. Em Stromgarde, Trollbane foi o primeiro a receber a mensagem e enfureceu-se descontroladamente. Embora pensasse em imediatamente auxiliar a capital, Trollbane percebeu que talvez essa não fosse a melhor ideia, uma vez que, antes de proteger Lordaeron, as forças da Horde deveriam ser impedidas de cruzar Alterac e chegar com todo o seu vasto número aos muros da cidade. Ele odiava Alterac! Trollbane perguntava-se como Perenolde pôde, além de deixar a Horde passar ilesa, não avisar nenhum dos líderes da Alliance com antecedência, de modo que todos pudessem preparar-se para o combate com os orcs. Em um estalo, Trollbane compreendeu toda a situação: Perenolde havia negociado com a Horde e garantido passagem livre, em troca de proteção e autonomia após a guerra. Completamente furioso, ele chamou seus generais e anunciou que todos deviam preparar-se para o combate. Stromgarde foi com todas as tropas para Alterac.

Nas terras de Alterac, Thoras Trollbane e seus homens escalaram as montanhas facilmente, já que todos eram montanheiros do reino rochoso de Stromgarde. As passagens de Alterac foram cavadas nas montanhas de modo a serem pequenos caminhos estreitos, a fim de somente possibilitar o pequeno comércio entre os reinos vizinhos. Trollbane e seus homens saltaram sobre os orcs nas passagens, facilmente os eliminando, haja vista que, devido ao espaço estreito, eles não eram capazes de reagruparem-se em grupos maiores do que de três orcs para lutar. Depois de repetir o feito em quatro passagens, eles encontraram as forças de Alterac. Trollbane perguntou por Hath, o General das forças de Perenolde. Ao encontrá-lo, Trollbane descobriu que Perenolde havia realmente selado um pacto com a Horde em troca de proteção. Ele confrontou o general, que, apesar de estar somente seguindo ordens, resolveu voltar atrás e recuperar sua honra ao comandar as forças de Alterac no auxílio de Trollbane e das forças de Stromgarde, para pôr um fim às forças da Horde que estavam de passagem por Alterac.

Enquanto isso, Turalyon, Alleria e Sylvanas chegaram à capital e depararam com as vastas forças da Horde em sítio à cidade. Ele rapidamente ordenou que Khadgar usasse um dos grifos dos Wildhammer para alertar Terenas de sua chegada. Ao ser alertado, Terenas, então, percebeu que os orcs poderiam ser aprisionados entre os dois exércitos, de modo a não terem para onde correr. Turalyon comandou as forças da Alliance a avançar contra os orcs. Pegos de surpresa, eles foram atropelados pela cavalaria da Alliance. Ao perceber o avanço do exército da Alliance, os orcs voltaram-se conta eles. Nesse instante, as balistas, catapultas e os arqueiros de Terenas atacaram os orcs pelas costas, enquanto eles avançavam contra as forças de Turalyon. Na mesma medida, quando os orcs voltaram-se para as forças da cidade, Turalyon e seus homens pegaram-nos novamente desprevenidos pelas costas.

Entretanto, isso durou pouco: as forças da Horde eram imensamente maiores e cada orc abatido abria espaço para outros dois tomarem seu lugar. Em pouco tempo as forças de Turalyon foram empurradas de volta para o lago, possibilitando à Horde o devido tempo para voltar a atacar a cidade. Turalyon e Khadgar perceberam que eles precisavam de outro plano: aguardar pelo momento em que os orcs estivessem ocupados com a cidade, para avançar novamente de surpresa. Por seu turno, Terenas e os combatentes da capital continuaram a lutar, quando, desesperados, os combatentes abaixo das muralhas gritaram avisando que os portões estavam começando a ruir. O monarca desceu dos parapeitos e foi em direção dos portões. Ao chegar no local, ele notou os orcs utilizando um tronco de árvore maciço para tentar derrubar os portões e, de longe, viu apenas um oceano de orcs e percebeu que Turalyon recuara. Ele esperava – qualquer que fosse o plano do paladin – que tudo desse certo.

Doomhammer e os orcs perceberam que a vitória estava próxima, na medida em que, embora as paredes ainda resistissem completamente às investidas, os portões estavam prestes a cair. Tudo seria uma questão de tempo: os outros clãs regressariam com Gul’dan, Cho’gall e Zuluhed e a Horde finalizaria os humanos, de modo a reclamar seu novo mundo para si. Eis que um emissário de Dragonmaw chegou em seu dragão, para avisar Doomhammer da traição de Gul’dan: o warlock e Cho’gall deixaram a Horde, zarpando para o sul nos navios dos orcs.

Em meio à conversa com Torgus, capitão de Zuluhed, Doomhammer foi interrompido por Tharbek, um de seus comandantes. Ele avisou o Warchief de que as passagens nas montanhas foram seladas: pelo menos metade dos clãs ficaram presos nas passagens. Perplexos, Doomhammer e seus comandantes ponderaram a situação: não havia mais a certeza de que a cidade seria tomada pelos orcs, dado que seu número estava, então, reduzido. Doomhammer chamou Maim e Rend Blackhand, os líderes do Black Tooth Grin Clan, e ordenou-lhes a marchar para o sul, em direção de Hillsbrad, para perseguir Gul’dan e Cho’gall e seus clãs pelo mar, de modo a destruí-los até o último orc.

Embora sob protestos, os Chieftains obedeceram, haja vista que Doomhammer fizera questão de deixar claro que a honra da Horde estava em jogo. Ambos partiram com seu clã e dispararam pelo mar o mais rápido possível. Nas ilhas no meio do mar, Cho’gall avistou os invasores e avisou Gul’dan. Seu líder ordenou-o a defender a ilha, enquanto ele os warlocks avançariam para procurar a fonte de poder escondida nas ilhas. Maim e Rend Blackhand chegaram com os orcs na ilha e a batalha começou. Todos lutaram vigorosamente. De um lado, o Twilight Hammer Clan possuía como alvo a destruição do planeta. Portanto, qualquer coisa que pudesse aproximar a ordem do estado de caos era tomado como objetivo central por esses orcs. De outro, os orcs do Black Tooth Grin Clan, a mando de Doomhammer, lutavam por justiça, contra a traição de Gul’dan e dos orcs ali presentes. No final, Cho’gall foi abatido e, devido a estarem em menor número, os Twilight Hammer caíram junto com ele.

Gul’dan e seus servos, enquanto isso, prosseguiram em sua busca nas ruínas da cidade élfica que antes estivera submersa no fundo do mar, com suas paredes e estruturas marcadas por milênios de abandono. Ao chegar em um templo antigo, Gul’dan ordenou seus warlocks a segui-lo para dentro do local. Lá dentro, as marcas do tempo continuavam nas paredes e por toda a parte. Tratava-se da Tomb of Sargeras, lugar no qual Aegwynn, Guardian of Tiristal, escondeu o corpo do avatar de Sargeras com a força vital do titã caído. Gul’dan entrou no local e rapidamente foi surpreendido por criaturas de pura escuridão: demônios.

Superiores a qualquer demônio que Gul’dan já vira, eles facilmente suprimiram todos os orcs. Em pânico, os warlocks fugiram e Gul’dan correu por último. Ao tentar escapar, ele caiu em meio às pilastras e paredes do local. Sua face estava dilacerada pelo toque mortal de um dos demônios: Sargeras havia o traído. Em desespero e na iminência da morte, Gul’dan decidiu escrever com o próprio sangue um relato sobre o que ocorrera na tumba. Em pouco tempo, os demônios haviam o alcançado, a gargalhadas. Finalmente, Gul’dan foi morto.

Rend e Maim Blackhand estavam do lado de fora, quando as criaturas que assassinaram os warlocks e Gul’dan saíram pelas portas do templo. Os combatentes necessitaram de dezenas de orcs para serem capazes de destruir as criaturas. Os Chieftains tinham certeza de que as criaturas haviam matado Gul’dan. Eles sentiram a ilha começar a vir abaixo por alguma força maligna que estava dentro do local. Rend e Maim Blackhand ordenaram que os orcs retornassem a Doomhammer e avisassem-no de que Gul’dan estava morto.

No caminho de volta pelo mar, os orcs foram surpreendidos por um inimigo poderoso: Daelin Proudmoore. O almirante e monarca de Kul Tiras observa o mar aberto de um de seus navios. Ele fora informado por seus homens de que navios da Horde foram avistados no mar. Assim, o comandante da frota naval da Alliance estivera procurando os navios orcs incansavelmente. Ao observar com sua luneta, ele conseguiu, finalmente, identificar os primeiros navios da Horde. Proudmoore ordenou a seus homens que se preparassem para o combate. Rapidamente todos se mobilizaram e os navios das frotas da Alliance esconderam-se por detrás de Crestfall, uma das ilhas a nordeste de Kul Tiras.

Os navios da Horde, pesados e sem experiência em combates navais, foram pegos de surpresa e facilmente dominados. Três navios foram afundados rapidamente, em meio às manobras e avanços da frota de Daelin Proudmoore. Apesar disso, o que parecia ser uma vitória fácil e garantida tornou-se um pesadelo: grandes sombras foram avistadas de longe, aproximando-se rapidamente do local no meio das nuvens. Proudmoore não sabia que tipo de poder aéreo a Horde possuía, embora sua intuição alertasse-o de que a batalha estava longe de terminar.

Ele assistiu em fúria à destruição instantânea do Third Fleet, uma das frotas navais mais poderosas da Alliance, pelos poderosos dragões. Certamente seu filho mais velho estava morto. No entanto, não havia tempo para luto. Ele precisava comandar. Proudmoore ordenou seus homens a dividir as forças, de modo que metade dos navios recuasse, enquanto a outra metade pudesse avançar contra os orcs. Ele não poderia falhar e deixá-los reunirem-se à Horde novamente. Surpreso, o capitão obedeceu e virou o mastro em direção dos orcs. Todos prepararam os canhões e avançaram, para enfrentar um dos dragões. Eles falharam miseravelmente e o dragão saiu completamente ileso.

Para a salvação das frotas da Alliance, vários grifos dos Wildhammer surgiram nos céus e avançaram contra os dragões. Os stormhammers voavam para todas as direções, derrubando os orcs do topo dos dragões e atordoando as bestas. Pouco a pouco, vários dragões foram abatidos. Em meio ao caos, o restante dos dragões regressou a Khaz Modan. Enquanto isso, Proudmoore e as forças navais da Alliance destruíram os orcs. Alguns navios orcs escapam, mas a grande maioria tombou no mar. Nos destroços, eles encontraram sobreviventes: humanos de Alterac, a mando de Perenolde para auxiliar os orcs. Proudmoore ordenou que todos fossem aprisionados, para testemunhar contra Perenolde em Lordaeron. Todos regressaram para Southshore, para auxiliar as forças da Alliance contra os orcs no continente.

Na capital de Lordaeron do lado de fora dos muros da cidade, Doomhammer percebeu que os orcs não voltariam mais. Passaram-se muitos dias e, então, os dragões de Dragonmaw já deveriam ter voltado. Algo muito sério deveria ter acontecido na busca por Gul’dan. Ele comandou a Horde a recuar, dado que eles estavam prestes a perder a batalha por Lordaeron. Todos os orcs estavam contrariados com Doomhammer. Eles estavam a ponto de vencer a guerra, quando ele ordenou que metade das forças recuasse para perseguir o warlock traidor. Orgrim não conseguia compreender como todos os orcs haviam se esquecido dos princípios de honra de seu povo. No fundo, tudo era culpa da injustiça de Gul’dan. Doomhammer sabia que, mesmo se a Horde viesse a cair, ela teria recuperado sua honra.

Doomhammer e os orcs continuaram a recuar em direção de Khaz Modan, marchando para longe das forças da Alliance. Em meio ao percurso, um orc aproximou-se desesperado. Ele relatou a Doomhammer que soldados humanos avançavam pelo Leste. Orgrim percebeu, então, que se tratava de metade do exército da Alliance, que havia ficado em Hinterlands para cuidar das forças que a Horde deixara como armadilha para atrasá-los na terra dos anões. Esses humanos estavam com sua cavalaria e armaduras pesadas, portanto certamente eram paladins. Doomhammer ordenou que todos corressem e batessem em retirada em direção de Khaz Modan.

Embora correr da Alliance significava derrota, era o que restava para a sobrevivência da espécie. Em Khaz Modan eles encontrariam Kilrogg Deadeye e o Bleeding Hollow Clan, forças suficientes para enfrentar a Alliance novamente. Ao chegar em Khaz Modan, Doomhammer encontrou o Chieftain dos Bleeding Hollow, que lhe informou que seria impossível auxiliar no combate, devido ao conflito com os anões em Ironforge. Todas as frentes de anões vencidas pelos orcs recuaram para Ironforge. Não se sabia a profundidade dos túneis da fortaleza, mas se presumiam gigantescos. Caso o cerco à cidade fosse revogado, eles sairiam de baixo da terra como abelhas para avançar contra a retaguarda da Horde. Deste modo, o Warchief foi persuadido pelo orc mais experiente. Ele ordenou todas as forças dos orcs a recuar para Blackrock Spire, a fortaleza e base da Horde em Azeroth, de modo a deixar somente uma pequena força para conter Ironforge. No final, o Chieftain dos Bleeding Hollow elogiou o Warchief, dizendo que ele fez o certo em impedir que a traição de Gul’dan fosse aceita na Horde. Eles poderiam ter perdido a guerra, mas reganharam sua honra de forma justa.

No lado da Alliance, Anduin Lothar finalmente retornou de Hinterlands e reuniu-se com Turalyon. Ele saudou o jovem tenente e, já sabendo dos acontecimentos, elogiou o jovem paladin. Hinterlands também estava sem orcs. Todos foram caçados, com a ajuda dos Wildhammer. Uther e os demais paladins, por sua vez, foram enviados a Lordaeron, para assegurarem-se de que tudo estava bem na capital. Quel’Thalas, por seu turno, estaria recebendo as forças dos elfos, para limpar os últimos trolls que haviam permanecido nas florestas élficas. Turalyon percebeu que a Horde estava cada vez menor em números, depois de sucessivas derrotas cruciais. Ele, então, intuiu que eles recuariam para Khaz Modan. Turalyon propôs que a Alliance auxiliasse os anões de Ironforge a libertarem-se. Deste modo, uma vez libertos, eles retribuiriam o favor na luta contra os orcs e a Alliance ganharia mais um aliado.

Em Ironforge, as forças de Lord Lothar chegaram no reino dos anões e prepararam-se para liberá-los. Eles aproximaram-se por detrás dos orcs nas portas de Ironforge. Devido aos fortes ventos na altitude das montanhas de gelo, as forças da Horde não puderam ouvir a chegada dos combatentes da Alliance. Isso provou ser fundamental, dado que eles tiveram o elemento da surpresa ao seu lado mais uma vez. Antes mesmo de os orcs perceberem sua aproximação, a cavaria já moia todos os orcs. Ao perceber a movimentação da cavalaria dos humanos, os anões de Ironforge abriram os portões maciços de rocha montanhosa e avançaram contra a retaguarda dos orcs, de modo a prendê-los entre os dois exércitos.

Com a derrota dos orcs, Anduin Lothar apresentou-se aos líderes dos anões, esclarecendo-lhes sobre o andamento da guerra. Muito gratos aos combatentes de Lord Lothar, os anões decidiram entrar para a Alliance na guerra contra os orcs. Kurdran Wildhammer, primo dos anões de Ironforge, regressou de sua perseguição aérea da Horde, para informar Lothar e o resto da Alliance da movimentação dos orcs. Segundo ele, as criaturas marchavam aceleradamente para Blackrock Spire. Muradin e Brann Bronzebeard, os monarcas de Ironforge, alertaram Lothar dos perigos da montanha de Blackrock. Ambos os reinos de anões confirmam sua participação na guerra e afirmaram que rumariam para Blackrock Spire junto com as forças da Alliance.

Uther regressou com os paladins e reportou a Lothar sobre a situação de Lordaeron: não havia mais nenhum batalhão de orc no continente. Lothar percebeu que os orcs se defenderiam bravamente e que a batalha final seria dificílima, devido à posição estratégica de Blackrock Spire e da consequente facilidade para sua defesa.

A posição de Blackrock Spire não foi a única vantagem da Horde nesse combate. A Alliance foi atacada de surpresa pela primeira vez na Segunda Guerra. O Comandante Supremo foi alertado por um arauto de que os orcs avançavam subitamente em frenesi. Ao averiguar, Lothar viu as criaturas lutar como nunca antes. Eles sabiam que era sua batalha final e, portanto, fariam-na ser a grande batalha pela morte gloriosa. Ele chamou Uther e alertou os paladins de que os orcs destruíam os combatentes da Alliance que repousavam relaxados, aguardando por um longo sítio em Blackrock Spire. Uther e os paladins avançaram como cavaleiros imbuídos de pura luz e fé. Eles destruíram as forças da Horde facilmente, irradiando luz e potência para todos os lados no campo de batalha.

Lothar, então, escutou outro arauto gritar desesperadamente: a Horde atacava outro ponto nas forças da Alliance. Ao chegar no local, Lothar viu mais orcs do que no último ataque, ogros e outros membros da Horde. Dessa vez, eles não lutavam em frenesi, desesperadamente e sem tática como no ataque anterior. Eles avançavam brilhantemente, como uma força militar adequada. Em meio aos orcs, Lothar notou um orc diferenciado, que lutava como um campeão. Certamente era o líder da Horde – Lothar encontrara Doomhammer. Este, igualmente, identificou Lothar e correu em direção do líder da Alliance, derrubando orcs e humanos no caminho, como um rolo compressor. Lothar também cavalgou rapidamente em direção do Warchief, embora sem atingir nenhum de seus homens. Com a mesma determinação, ele avançou em direção de Doomhammer.

Os dois lutaram bravamente, cada um a ferir seu inimigo de acordo com suas habilidades. Lothar, embora mais velho, era mais experiente; Doomhammer, por ser mais novo, era mais ágil e forte. De longe, Turalyon notou o combate e tentou mover-se em direção dos dois. A luta continuou e Lothar feriu Doomhammer no tórax. Depois do golpe, o Warchief removeu sua armadura e resolveu lutar desprotegido. Assim, ele estava ainda mais ágil. Lothar usou sua espada com as duas mãos, tentando atingir o orc. Doomhammer em um golpe brutal com seu martelo quebrou a espada de Lothar e destruiu sua cabeça. Enquanto o Supreme Commander da Alliance jazia no chão, em uma possa de seu próprio sangue, Doomhammer gritou a todos que os orcs estavam prestes a conquistar o mundo dos humanos.

Turalyon desesperou ao ver Lothar morto. Ele aproximou-se do local onde Doomhammer estava próximo ao corpo do Comandante Supremo. Ele tornou-se um bastião da luz, a iluminar todo o campo de batalha como uma estrela. Todos os orcs e humanos tentaram cobrir os olhos da luz irradiante, inclusive Doomhammer. Turalyon despediu-se de seu mentor e virou-se para o Warchief. Turalyon facilmente desarmou Doomhammer e acertou-o com a espada de Lothar, de modo a apenas o atordoar. Caído, ele foi capturado e Turalyon anunciou que ele responderia pelos crimes na capital. Por fim, ele virou-se ao restante da Horde e anunciou que eles, por sua vez, seriam exterminados. Assim, ele avançou e começou a atacar os orcs, seguidos por todos os paladins.

Os orcs foram facilmente vencidos. Depois da queda de Doomhammer, eles perderam totalmente o sentido. A maioria se rendeu e Turalyon preferiu não os matar, mas somente os aprisionar. Os que resolveram lutar foram facilmente vencidos. Parte deles fugiu através das montanhas para o sul. Turalyon ordenou as forças da Alliance a segui-los, sem os capturar. Na medida em que a Horde perdera a guerra, os orcs certamente fugiriam para o lugar de onde vieram: o Dark Portal. Portanto, segui-los seria a melhor maneira de descobrir o paradeiro do portal e, finalmente, destruí-lo de uma vez por todas.

Todos partiram para o local em direção do qual os orcs estavam fugindo. Seguindo o comando de Turalyon, todos apenas perseguiam os orcs, sem os alertar ou alcançá-los, de modo que pudessem encontrar a localização do Dark Portal. Depois de alguns dias a marchar pelos Swamp of Sorrows, eles alcançaram o local chamado Black Morass. Nesse local, a terra havia se tornado vermelha e empoeirada, em contraste com os pântanos. Embora Brann Bronzebeard e os outros anões que estavam com eles fossem mestres em questões de terras e rochas, eles mesmo assim não sabiam que substância era aquela e quais eram as causas da transformação no cenário. Depois de alguns dias, Khadgar alertou-os que os magos do Kirin Tor acreditavam que tal feto decorria de o Dark Portal conectar os dois mundos. Ele revelou que havia visto um terreno similar em Draenor, em uma visão que tivera em Karazhan. Assim, todos concordaram que, portanto, o Dark Portal deveria ser destruído o mais rápido possível para selar a ligação entre o mundo destruído dos orcs e Azeroth.

Turalyon e os outros comandantes foram avisados por um soldado de que a Alliance havia encontrado um vale, no qual os orcs apinhavam-se ao redor de um grande portal. O Comandante Supremo da Alliance avisou que todos atacariam imediatamente. As forças marcharam para a região. Lá havia um portal construído com pedras maciças esverdeadas, de pelo menos 30 metros de altura e quase o mesmo de largura. No centro havia um redemoinho esverdeado, claramente a ligar os dois mundos. Turalyon e os paladins saltaram para o vale, seguidos pelos lançadores, arqueiros e combatentes da Alliance. Todos começaram a lutar contra os orcs.

Os humanos lutaram com sinergia e disciplina, rapidamente a varrer os orcs do local, fazendo parte deles correr em direção do portal e regressar a seu mundo. No final, dois orcs restaram no local: Maim e Rend Blackhand. Eles foram desafiados por Turalyon e avançaram contra o paladin. Facilmente batidos, eles chamaram pela ajuda de seu clã e, em meio ao caos da batalha, fugiram despercebidamente por entre as forças da Alliance.

No final, Turalyon e a Alliance efetivamente venceram os orcs, enquanto os Blackhands fugiram. Nesse instante, Turalyon ordenou Khadgar a destruir o Dark Portal. Khadgar e os magos do Kirin Tor começaram a realizar um ritual mágico, de modo a drenar todo o poder do Dark Portal para eles, para canalizá-lo em Khadgar. No momento em que Khadgar estava completamente carregado com a força cósmica do Dark Portal, ele concentrou-se e conjurou uma esfera de pura magia. Ele lançou-a no Dark Portal e atingiu-o em cheio, destruindo os alicerces de rocha sólida sobre o qual o redemoinho fixava-se. Pedaços de pedra voaram para todos os lados e a explosão derrubou os combatentes no campo de batalha. Finalmente, o Dark Portal estava destruído e a ligação entre os dois mundos desfeita. A guerra havia acabado e a Alliance vencera o conflito.

Mesmo com toda sua superioridade, a Horde acabou derrotada pelas forças da Alliance. Em uma superioridade em número, em força aérea, em magia e em força física, ainda assim esses orcs, ogros, cavaleiros da morte e dragões não foram suficientes para desmantelar a aliança entre os Sete Reinos, o reino dos elfos e os reinos dos anões. Quando dominavam a guerra, em um momento de clara vantagem, os orcs poderiam ter derrubado os portões da capital e rapidamente tomar a cidade. Seria impossível tirá-los do local e a derrota de Lordaeron significaria um revés grande demais para a Alliance suportar.

Na Horde, Doomhammer havia governado em vista de uma vitória honrada e justa: embora tivesse invadido o mundo dos humanos, os orcs não possuíam mais um lugar para viver. Além disso, guerrear era parte fundamental da cultura dos orcs. Como os Hunos, eles eram movidos por combates e conquistas. Deste modo, superar inimigos em combate era a maior expressão da honra e da justiça para o povo de Draenor. Apesar disso, a agenda de Gul’dan possuía objetivos diferentes: ele desejava o poder, tomar o mundo para si próprio.

Como característica da constituição da Horde, ela era composta pela confluência de diversos clãs distintos que, sob a liderança de um Warchief, lutavam em conjunto por um objetivo comum. Desde modo, assim como no caso das diferentes cidades – ou poleis – helênicas na Antiguidade Clássica, todos os clãs possuíam um idioma e práticas religiosas em comum; apesar disso, cada clã possuía seu líder, autonomia de governo e leis próprias. Não havia, portanto, uma unidade muito sólida entre os orcs, mas, sim, divisões internas que, mais cedo ou mais tarde, poderiam levá-los ao fracasso. Doomhammer acreditava que era melhor ser honrado e justo; Guldan, por sua vez, que era melhor ser totalmente injusto, para ser capaz de ter o poder em suas próprias mãos.

No Livro I d’A República de Platão, Sócrates conversa com seus amigos sobre a justiça. Em meio ao diálogo amigável, por meio do qual os diferentes participantes tentavam definir o que é justiça, Trasímaco, uma personagem representada por Platão na forma de um sofista alheio aos pensamentos de Sócrates e de seus amigos, interrompe a conversa de todos para defender uma tese de realismo brutal: o justo é a vantagem do mais forte.

Trasímaco defende que havia diferentes formas de governo, cada qual a levar a efeito constituições que lhes possibilitassem uma vantagem no governo perante os cidadãos, que deveriam, por sua vez, obedecer. Haveria justiça, portanto, quando o governante conseguisse governar de modo que todos realizassem aquilo que é vantajoso a ele: tal governante define as leis, as regras e o que a maioria deve cumprir – o jogo político; os governados, por seu turno, não têm escolha a não ser obedecer. Em suma, essa configuração política, para Trasímaco, é o que define justiça.

Sócrates busca argumentar que, na verdade, toda arte e toda técnica visa a vantagem daquilo de que é arte: a arte médica, por exemplo, visa curar os corpos, portanto visa a vantagem daquilo de que é arte, a saber, a vantagem dos corpos; estes, os mais fracos nessa relação, recebem a vantagem da arte médica: a saúde. Segundo ele, o mesmo ocorre com a arte de cuidar de cavalos, de navegação, e assim por diante. Do mesmo modo, a arte de governar não seria diferente, na medida em que ela visa a vantagem dos mais fracos, isto é, a vantagem dos governados.

Nesse instante, o sofista inverte sua tese e apresenta a polêmica tese que nos interessa aqui: Sócrates seria ingênuo, haja vista que, na verdade, a injustiça é melhor do que a justiça. Aquele que comete as maiores injustiças, não os pequenos subterfúgios e enganações, mas a conquista e escravização de outros povos, a enganação e supressão de milhares de pessoas, é superior ao justo. Portanto, a total injustiça, que para Trasímaco é uma virtude, é superior à justiça, que seria, na verdade, uma ingenuidade.

Nas palavras de Trasímaco, podemos vislumbrar a configuração da Horde na Segunda Guerra. De um lado, temos Doomhammer, como Sócrates, que acredita em governar de acordo com o vantajoso ao seu povo, aos orcs, que necessitavam de uma morada e de um lugar para viver e prosperar com vida e alimentação, dado que em seu planeta natal as terras eram vastas desolações sem vida e sem alimento. De outro lado, temos Gul’dan, como Trasímaco, que acredita em governar de acordo com o vantajoso a ele mesmo, ao mais forte, que leva a efeito as maiores injustiças e realiza, com maestria, o realismo de Trasímaco.

Esse realismo, contudo, é algo para o qual Sócrates precisará desenvolver uma refutação, caso ele queira chegar à verdade. Embora Trasímaco, de certo modo, aquiesça e aceite entrar no diálogo socrático, o filósofo tem muitas dificuldades para efetivamente desbancar as teses do sofista. Ora, o fato de a injustiça ser superior à justiça pode facilmente ser verificado na realidade: as conquistas dos povos antigos não foram na base da argumentação ou do justo, mas na efetivação da vantagem do mais forte. Sócrates, contudo, para desbancar a tese de Trasímaco, precisará ir de encontro às formas de governo e à realidade de seu próprio tempo, recorrendo a abstrações que visam definir o uso da justiça nas grandes conquistas de povos.

Sócrates relembra Trasímaco de que ele havia dito que as cidades que se tornaram mais poderosas recorreram à efetivação daquilo que o sofista definiu como injustiça: a virtude – superior à justiça, que é ingenuidade – por meio da qual ações de cunho totalmente injusto são levadas a efeito, a saber, a escravização de povos, a tomada de poder e assim por diante. Apesar disso, o filósofo questiona o sofista: será que é possível a esses povos e cidades tornarem-se tão poderosos sem recorrer à justiça, da qual Trasímaco depreende ingenuidade?

Para a linha de raciocínio de Sócrates ficar mais clara, vamos recorrer a Gul’dan e à Horde. Em meio ao conflito, os orcs estavam a ponto de tomar a capital de Lordaeron e conquistar o mundo. Os portões da cidade estavam à beira do colapso, os cavaleiros de Turalyon estavam acuados e vencidos, as provisões do Rei Terenas haviam acabado e não havia nada mais a ser feito de cima dos muros da cidade. E, no final, por que a Horde não conseguiu vencer? Na realização de sua ação vigorosa contra os humanos e de conquista do mundo, houve um momento em que uns voltaram-se contra os outros. Isso, efetivamente, foi a causa da derrota da Horde: uma cisão interna, causada pela injustiça de Gul’dan.

Segundo Sócrates, os injustos nada conseguem fazer quando estão uns com os outros. Para ele, não é possível realizar nenhum empreendimento em conjunto, se não houver um mínimo de justiça entre os iguais. Caso a injustiça total impere no grupo, nada será possível realizar em grupo, dado que uns voltam-se contra os outros. É o caso do que aconteceu na Horde: Gul’dan causou uma cisão interna, resultando no conflito entre os clãs Black Tooth Grin e Twilight Hammer. Quando Gul’dan aproximou-se do paradigma de Trasímaco, sendo absolutamente injusto, ele causou aquilo que Sócrates utilizou para tentar refutar a tese de Trasímaco: a injustiça é melhor do que a justiça, pois sendo injustiça aquelas ações que são realizadas de modo totalmente injusto, a justiça é necessária para que o mais forte se efetive enquanto tal; mesmo que ele deseje ser ‘injusto pela metade’, deverá utilizar de alguma parcela de justiça.

Isso significa que, na medida em que um indivíduo, um povo, um grupo, em qualquer empreendimento, desejar obter sucesso, mesmo que seja pelas vias da injustiça, será necessário ter algum elemento de justiça no seio do grupo, do povo, ou até mesmo no âmbito do próprio indivíduo. No caso de Gul’dan, ele precisou operar pela lógica da justiça, quando trabalhava com Cho’gall e com os outros warlocks. Sem isso, eles teriam traído uns aos outros. Ele teria matado Cho’gall, ou teria sido morto por um deles. Até mesmo na ‘absoluta injustiça’ de Gul’dan havia uma parcela de justiça, para que ele fosse capaz de chegar às ilhas e buscar seu poder ilimitado.

Sócrates, por fim, argumenta que, no âmbito do indivíduo, mesmo quando ele não age em conjunto com ninguém, ele não poderia ser completamente injusto, dado que isto causaria conflito interno em sua própria alma: seus desejos, por exemplo, certamente se voltariam contra a racionalidade, contra seus propósitos e seus princípios. Portanto, ser completamente injusto, como demonstrado por Sócrates e comprovado por Gul’dan, impossibilita a realização de qualquer feito grandioso que possa suscitar força e vantagem ao indivíduo ou a um povo.

Para os orcs não haveria muita saída: eles teriam de guerrear contra a Alliance em busca de seu futuro. Não lutar não estava em questão para a cultura dos orcs. Ainda assim, a justiça de Turalyon e dos paladins garantiu o aprisionamento dos orcs e sua sobrevivência. Embora vencidos, estes estavam aprisionados em acampamentos, a realizar trabalho forçado e ficar isolados, de modo que não pudessem reagrupar-se novamente para formar outra Horde.

No final, após a destruição do Dark Portal e do reestabelecimento da paz nos Sete Reinos, eles sabiam que os problemas com os orcs estavam longe de ter um fim. Após a construção do monumento a Lord Anduin Lothar no local da batalha final, nos pés de Blackrock Spire, Khadgar e Turalyon estavam cientes de que se tratava, na verdade, somente do começo: a guerra entre orcs e humanos, com justiça e com injustiça de ambos os lados, estava longe de seu fim…

Revisado em janeiro de 2020

Deixe um comentário